Olelas

A pequena aldeia de Olelas, a vinte e tantos quilómetros de Lisboa, para Noroeste, e a uns 800 m a nascente da estação de Sabugo, na linha férrea de Oeste, à qual está ligada por um caminho, encontra-se à altitude de 200m num socalco da vertente da serra de Olelas, série de pequenas colinas extremamente pedregosas, na mais setentrional das quais se vê a pirâmide geodésica, do mesmo nome.

O solo, na parte que interessa a este estudo, constituído por uma mancha de calcário do maim superior (neo-jurássico), que se estende ao lado nascente da povoação, perto da qual, cortando os calcários, aparecem afloramentos basálticos. Esta mancha é cercada por terreno terciário sulcado por numerosas falhas, salvo pelo Norte, em que se vê o turoniano.

Carlos Ribeiro nos seus apontamentos de campo em data de 14 de Abril de 1878, diz: "Metemos à ravina 50 a 60 m de fundo; encostas agrestes e abruptas. O basalto com grossos elementos de olivina, aflora no flanco esquerdo, vendo-se logo acima do leito da ravina. Um arroio salta em cascata de degrau em degrau e por cima de um leito formado de calhaus de calcáreo com 1 a 1,5m de diâmetro povoando o leito. E o leito de uma torrente com 20 a 30% de declive.As vertentes são alcantiladas, aspérrimas, de perigoso acesso".

A Nordeste de Olelas entre o Cabeço do Norte e o do Sul, o Picôto, escava-se como dissemos, um apertado vale denominado Vale da Calada, de vertentes abruptas em que a rocha se mostra a nu nas partes superiores e coberta de carrascos nas menores altitudes. E mesmo este aspecto que distingue bem os dois cabeços das terras vizinhas que pelo contrário estão bem aproveitadas em culturas diversas e com algum arvoredo, fazendo-os destacar notavelmente na paisagem para quem vai da estação do Sabugo.

Estes dois maciços rochosos, caprichosamente recortados, pela erosão que neles esculpiu inúmeras anfractuosidades, apresentam nos seus flancos que formam o vale as três citadas furnas de desigual importância.

Na vertente meridional do vale a Cova da Raposa, a maior das três furnas, tem a sua dupla abertura voltada ao Norte e dando para um pequeno terraço cortada a meio por um curioso arco natural, esculpido na rocha, lembrando um arco butante de catedral gótica, bastante largo na parte superior e adelgaçando para a base que está desviada da prumada para o lado do poente.

As duas grutas que a compõem, a que Carlos Ribeiro chamou lª gruta, a do Oeste, e 2ª gruta, a de Este, abrem à distância duns 2 m uma da outra e avançam no interior da rocha em divergentes direcções, uma para poente e outra para nascente.

A 1ª gruta tem uns 11m de profundidade na direcção aproximadamente Nordeste-Sudoeste, 2,5m de largura média, 1,70m de altura na boca e 2m na parte central. E ainda prolongada por uma pequena furna de impossível acesso a um homem pelas suas reduzidas dimensões.

As duas grutas são separadas, da boca até cerca de 4m para o interior, por rocha perfurada num e noutro lado e em diversos pontos por pequenas aberturas, que a atravessam.

A segunda gruta é um pouco maior mas mais irregular, tem um vestíbulo ou lª sala duns 4 metros de comprimento por 2 metros de largura e outro tanto de altura, que termina ao Sul por uma câmara muito baixa.

Na sua parede de Poente abre-se uma 2ª sala, muito menor, comunicando com a 1ª por uma abertura a l,5m acima do solo, larga mas só com O,7 a O,8m de altura.

Desta 2ª sala parte uma galeria com 11 a 12 metros na direcção de Este-Oeste elevada do solo da sala cerca de 1m, e formada por uma parte duns 5 metros em que se passa apenas rastejando, mas de 1,5m de largura e seguida de uma câmara mais larga e mais alta permitindo a posição de pé se bem que um pouco curvado. No extremo desta câmara existe uma larga e baixa abertura ou janela para o exterior mas que devido à grande altura a que se encontra para o exterior e a verticalidade da rocha nesse sítio não pode dar entrada para a gruta.

A 2ª cova a Cova Grande (?) é uma pequena furna duns 4 a 5 metros de profundidade. Está situada também, como se disse, na vertente Sul do vale a uma altitude um pouco superior à Cova da Raposa e a uns 200 metros de distância desta. Não é propriamente uma gruta, mas apenas um abrigo na rocha um pouco mais profundo do que tantos outros nela existentes.

Porém, noutros tempos seria maior, pois que nos parece ter sido reduzida às dimensões actuais pelo desmoronamento da parte anterior como parece notar-se num exame ao local.

A Cova do Biguino, é uma gruta mais regular, situada na encosta Norte com a boca voltada para Sudoeste e abrindo num pequenino terraço a uma altura superior a uns 10m à da fronteira Cova da Raposa.

A boca tem 2;5m de largo por 2,3m de maior altura. As dimensões transversais da gruta vão diminuindo rápidamente ao mesmo tempo que o seu solo desce, de modo que a 10 ou 11 metros de entrada, as suas dimensões reduzem-se a 0,3m de altura por O,5m de largo num nível inferior ao da boca de mais de metro.

O espólio

Dum modo geral, foram recolhidos nestas grutas, ossos humanos e de animais, instrumentos de silex, cerâmica, contas e alguns objectos de diorite, e nas estações de superfície, diversos instrumentos de silex e principalmente cerâmica. Não nos foi possível constatar no local a existência de rocha contendo silex, mas é natural o seu encontro nas vizinhas camadas de calcário turoniano à semelhança do que sucede com as camadas desse calcário existentes, por exemplo, nas proximidades de Paço de Arcos que apresentam nódulos de sílex, a menos de que os sílices de que esses povos dispunham, provenham do comércio com os vizinhos, vivendo mais para o Sul, que lhes trariam os núcleos, matéria prima para muitas das suas armas e instrumentos.

Os instrumentos líticos encontrados não são suficientes para caracterizar, dentro do neolítico, uma época, pois que se reduzem a um machado, fragmentos doutros, pilões, facas, raspadores, lascas e núcleos de silex, percutores e algumas contas, com persistência de tipos do paleolítico nalguns casos. Já porém, a cerâmica, infelizmente muito fragmentada é, a nosso ver, pela sua ornamentação, mais característica.